Monday, November 27, 2006

Reasons Unknown (The Killers)

I pack my case
I check my face
I look a little bit older
I look a little bit colder
With one deep breath,
and one big step,
I move a little bit closer
I move a little bit closer
For reasons unknown

I caught my stride
I flew and flied
I know if destiny’s kind,
I’ve got the rest on my mind
But my heart, it don’t beat,
it don’t beat the way it used to
And my eyes, they don’t see you no more
And my lips, they don’t kiss,
they don’t kiss the way they used to,
and my eyes don’t recognize you no more

For reasons unknown, for reasons unknown.

There was an open chair
We sat down in the open chair
I said if destiny’s kind,
I’ve got the rest on my mind
But my heart, it don’t beat,
it don’t beat the way it used to
And my eyes, they don’t see you no more
And my lips, they don’t kiss,
they don’t kiss the way they used to,
and my eyes don’t recognize you at all.

For reasons unknown, for reasons unknown.

I said my heart, it don’t beat,
it don’t beat the way it used to
and my eyes don’t recognize you no more
And my lips, they don’t kiss,
they don’t kiss the way they used to,
and my eyes don’t recognize you no more.

For reasons unknown, for reasons unknown,
for reasons unknown, for reasons unknown

Tuesday, November 21, 2006

Catarse e ano-novo

Será o ano-novo ou será o Natal? Talvez nem um nem outro, mas sim o inverno. Não sei.

Curioso como por mais que pense por vezes estar desconectado do mundo, sou vítima de um dos estigmas mais frequentes nesta época do ano: a depressão. A ver, assumo-o por via das dúvidas, e também por assignar à sensação angustiante que sinto um tom passageiro e relativizante.

O mês de Novembro ainda nem acabou e, seguindo o timing capitalista de vendas - que sem importar-se com a temperatura ou a estação (seja em que hemisfério - pois as estações são cada vez mais dispersas e parecem-se a verões esquizofrênicos) sacou árvores e decoração de natal às ruas mal acabava Outubro - começo a fazer o balanço do ano que se acaba, 40 dias antes disso (não comecei hoje!).

A frase que serve de ponto de partida pro balanço é a seguinte "se eu morresse amanhã, teria feito alguma diferença neste mundo?". A julgar além do balanço que [felizmente] poderia ser feito por familiares e amigos, a resposta seria "não".

Sim, várias experiências, sensações vividas("emoções" diria Roberto Carlos), mas nenhuma árvore plantada (quiçás sim, na infância!), nenhuma casa, jardim, filho(a)ou livro. Nada!

Longe do espírito derrotista, aliás, todo o oposto(!), espero que em nove dias, ao encerrar laboralmente este ano, chegue à conclusão que 2006 tratou-se um ano de muito trabalho, e que o seu saldo seja positivo, ao menos neste aspecto; já que por todo o demais, até o momento resume-se a uma busca constante que não encontrou destino e que a meio do caminho(?) perdeu o seu curso e motivação.

Que em 2007, o meu maior inimigo, a inércia, seja vencido rotundamente, por mim mesmo!

O ar que há meses respiro é pesado, quase intragável de tão viciado. Ainda assim, forço o olhar ao horizonte e penso que se a onda teima em não vir, hei-de dar-lhe uma mãozinha.

Monday, November 13, 2006

Auto-ajuda

Já vinha pensando nisso há algum tempo. Talvez esteja num eterno processo de tentar reinventar a roda, visto que nem leio livros de psicologia nem vou à terapias. Portanto, para a eventualidade de estar sendo lido por algum profissional do ramo, cale e leia ou então clique no "x" dentro do quadradinho vermelho no canto direito superior desta janela.

Retornando ao tema adiado, a minha questão (? dá-me igual a resposta, já verão!) é até que ponto faz bem falar tudo que nos vem à mente? Até que ponto devemos dar-nos ouvidos, pra início de conversa? Minha teoria é de que ao tentar explicar as minhas acções, justificando-as perante os outros/a sociedade, estaria vivendo com medo. Pedindo desculpas eternamente, como o católico fervoroso que vai à igreja todos os domingos "religiosamente" não pela sua fé, mas movido pela culpa que lhe foi incumbida durante toda a sua vida e cuja espiral ele alimenta.

Ao contar meus problemas, dou-lhes forma. Uma coisa é jogar pra fora, mesmo que para mim mesmo, numa folha de papel ou num blog(!) tudo (ou quase) que me passa pela cabeça, na tentativa de isolar e descobrir "o" elemento dissonante, causa de noites perdidas de sono ou raio que o valha. Outra bastante distinta, e nada positiva, seria dar forma a um comportamento paranóico, ao crer que sempre que me sinta angustiado ou melancólico, que isso não possa advir simplesmente de um desequilíbrio químico do meu organismo - semelhante aos mecanismos que fazem com que uma grávida tenha desejos de comer carne, quando o seu organismo detecta um baixo nível de proteínas. Talvez um semelhante mecanismo auto-regulador pudesse assim ser desactivado à força pelo recurso a algum remédio, que por isso, não seria nunca sanado. Seria como dar à dita grávida uns bolinhos ou uma bandeja de biscoitos.

Creio por isso que às vezes, e não são poucas, o melhor mesmo é calar.

Wednesday, November 08, 2006

Contraditoriedades

Às vezes penso nas bobagens que dizemos todos os dias e que se contradizem. Mesmo as chamadas "verdades chinesas"(sic), segundo o ângulo, deixam muita margem à contradições. Assumo, naturalmente, que ao adoptar-se uma leitura a uma, esta deve ser adoptada às demais, mas isso já é complicar o que queria dizer (lançar pro ar).

Duas músicas:

LEIF ERIKSON (Interpol)


She says It helps with the lights out
Her rabid glow is like braille to the night.
She swears I'm a slave to the details
But if your life is such a big joke, why should I care?

The clock is set for nine but you know you're gonna make it eight.
So that you two can take some time, teach each other to reciprocate.

She feels that my sentimental side should be held with kid gloves
But she doesn't know that I left my urge in the icebox
She swears I'm just prey to the female,
Well then hook me up and throw me, baby cakes, cuz I like to get hooked.

The clock is set for nine but you know you're gonna make it eight.
All the people that you've loved they're all bound to leave some keepsakes.
I've been swinging all the time, think it's time to learn your way.
I picture you and me together in the jungle it will be ok.

I'll bring you when my lifeboat sails through the night
That is supposing you don't sleep tonight

It's like learning a new language
Helps me catch up on my mime
If you don't bring up those lonely parts
This could be a good time
You come here to me.
We'll pick up those lonely parts and set them down
You come here to me...

She says brief things, her love's a pony
My love's subliminal

COME BACK (Pearl Jam)


If I keep holding out
Will the light shine through?
Under this broken roof
It's only rain that I feel
I've been wishin' out the days
Oh oh oh
Come back

I have been planning out
All that I'd say to you
Since you slipped away
Know that I still remain true
I've been wishin' out the days
Please say that if you hadn't have gone now
I wouldn't have lost you another way
From wherever you are
Oh oh oh oh
Come back

And these days, they linger on, yeah, yeah
And in the night, I've been waiting for
A real possibility that I may meet you in my dreams
I go to sleep

If I don't fall apart
Will my memory stay clear?
So you had to go
And I had to remain here
But the strangest thing to date
So far away and yet you feel so close
I'm not going to question it any other way
It must be an open door for you
To come back

And the days they linger on, yeah
Every night I'm waiting for
The real possibility that I may meet you in my dreams
Sometimes you're there and you're talking back to me
Come the morning I could swear you're next to me
And it's ok

It's ok, it's ok

I'll be here
Come back, come back
I'll be here
Come back, come back
I'll be here
Come back, come back
Oooooooo
Oooooooo

Sendo que quanto à segunda música, o curioso é que mantenho a porta fechada a tijolos. Mysterious ways...

Thursday, November 02, 2006

Marcelo Camelo

Odeio ser feito de estúpido. Chateia-me imenso, por não dizer pior, ao ver algum problema de interface seja onde for. O local onde isso mais frequentemente ocorre
deve ser a internet. Formulários pensados(?) que para serem preenchidos apenas contemplam um determinado número de respostas, servidores que emitem falsos feedbacks, etc.

Lendo um de seus posts, datado de 05/10/2006, tentei diversas vezes (20, 30?) enviar um comentário e a resposta, mais vaga impossível, foi "ocorreu UM erro não esperado ao enviar o seu comentário". Qual erro? Que campo haverei preenchido de forma equivocada ou insuficiente? Independentemente disto, eis o comentário que queria postar, referente ao texto mencionado:

"Confesso que não conheço muito a tua música nem a tua trajectória, mas pelas mãos de amigos, cheguei ao teu blog. Meio reticente, confesso que o teu post reflectiu algo em que penso bastante vez por outra.

O mais estranho dessa revolução que descreves é a sensação que sinto, misto de liberação ilimitada do ser humano (ainda que quiçás, apenas num universo virtual - que não deixa de ter seus tentáculos na realidade exterior à Net) e de opressão e controle iminetes (tráfico /tráfego de informação, liberdade vigiada, etc.).

Entretanto, nessa visão, o que mais curiosidade me desperta é saber como funcionará o inconsciente colectivo, numa realidade colectiva de dimensão global, mas ao mesmo tempo, cada vez mais segmentada e à la carte. A aleatoriedade de informação e de dados seguirá existindo, enquanto não sejamos clones ou meros productos de um determinado molde ou noção de ser humano, ditada por uma sociedade.

Mas existirá aquela sensação de júbilo ao reconhecer alguém da tua geração, ao assobiar uma canção?"

Adoro o aleatório, as funções Shuffle e Random em qualquer equipamento electro-electrônico. E aí residem meus maiores receios sobre em que medida, numa sociedade global, existirão em âmbitos geograficamente determinados, comunidades com um vínculo cultural, independente de sua origem e etnia. Este é um tema a desenvolver em mais detalhe em um futuro post.

Tuesday, October 31, 2006

Mysterious ways

Como é bom escutar/ver algo que te toca no fundo, que te transmite um sentimento de comunhão com a pessoa que produziu tal obra, condensando em uma canção, em um desenho, pintura, fotografia ou filme (etc.) uma sensação (ou conjunto de) de tal forma que te parece impossível dissociar uma coisa da outra. De discernir o significante do significado.

Este é o título de uma das minhas músicas favoritas. E veja que sou um fã do U2 da velha guarda, não um late-comer da época Achtung Baby! Na minha opinião, música imprescindível de qualquer top ten da banda irlandesa.

Há algo na batida hipnótica que condensa o erotismo e a sensualidade do universo feminino, em sua melodia sinuosa e sibilante, em sua lírica urbana que conjura toda uma série de sensações, resumindo sem explicar o que para mim representam as mulheres. Maldição e redenção.

Prefiro evitar os colectivismos e falar na primeira pessoa, sem medos nem máscaras. A verdade é que por mais jovem que seja a mulher, não qualquer uma, mas aquela que me engancha e mesmo que não saiba porquê, me atrai; existe uma aura que se impõe e que deixa-me sentindo uma criança inocente e indefesa. É quando sinto estar diante de uma Mulher. Daquelas que enchem uma cama, que tiram-me dos eixos e fazem-me esquecer de todo o resto, que me mostram em um lampejo que o tempo é fugaz e que sou mortal.

Na melhor das hipóteses, conhecerei alguém com quem compartir silêncios e miradas cúmplices, em quem sentirei fortaleza e que será uma pedra importante (mas não mais fundamental!) no chão onde me apoio. Na pior, esse alguém nunca será encontrado por eu haver desistido de encontrar. Em todo o caso, o importante é que a imagem da mulher ideal não existe, e que à ela elejo a todas as mulheres. Ignorarei o orgulho e não lutarei por provar nada a ninguém, apenas respeitarei todos os seus dogmas, sem ferir aos meus. Consciente de que mesmo o maior dos cabeças-duras, tem de curvar-se ao facto de que certas coisas carecem de compreensão e são como são. Às mulheres não cabem definições. Curiosamente, são aquelas com as quais sinto-me infantil as que conseguem ver "o homem na criança". Com alguma sorte, os véus são despidos e chega-se ao ventre. "She moves with it, lifts my days, light(s) up my nights..."

[late night draft]

Saturday, October 28, 2006

Mesa de bar

Pois é, internet pode ser legal e tudo, mas trocaria todo o tempo e tudo que escreví aqui por uma boa noite falando bobagens com meus amigos numa mesa de bar. Insubstituível.

Friday, October 27, 2006

A reinvenção da roda

Um dos maiores problemas do mundo, como já disse por estas bandas, é a falta de auto-crítica de cada indivíduo que nele reside. É verdade que é necessário um pouco mais de introspecção e menos desculpas na hora de se fazer as coisas. Afinal, não existe a solução perfeita para um problema, e sim, a mais adequada, segundo certos critérios num determinado momento (período de tempo).

Entretanto, há-de se ter em conta que o conhecimento não é apenas fruto de divagações ou de constantes consultas a isso ou aquilo (ou a esse ou àquele). Um factor importantíssimo é posto de lado, por medo ou vaguez, a chamada práctica. O conhecimento empírico proveniente dos erros e acertos constantes. Para que estes existam, é necessária uma acção. Ou seja, menos blábláblá, menos comissões e mais mãos à obra!

Enquanto escrevo estas linhas, não produzo aquilo que há anos e anos tenho protelado: desenhos. Amordaço-os e os enterro vivos dentro de mim. Engano-me, ao tentar convencer-me que isto afinal também é produzir, quando em maior parte, trata-se de uma manobra de diversão. Tão clara com o facto de não haver tal coisa como "uma foda adiada", mas sim, "uma foda perdida"(pardon my french!); é a mentira de que tais desenhos seguem vivos à espera de verem a luz do dia.

Cada idéia que não seguiu o seu caminho para o papel é uma idéia minguada.

Enquanto existir matéria, existirão idéias. Essa é a minha pedra de salvação e minha maldição em simultâneo. Ao menos até aqui tem sido. Não tento pregar nada a ninguém, e nem gosto que mo façam. Portanto, a única mensagem que quero transmitir é qualquer uma que motive alguém a deixar de esquentar tamburete e produzir!

Tuesday, October 24, 2006

Uma estranha calma II

Starlight

E aqui o vídeo, para seguir com o texto...

Uma estranha calma

Com alguma expectativa, espero o show ao qual assistirei neste sábado. Aqui, uma bela surpresa do último álbum:

"Starlight" (MUSE, Black Holes and Revelations)

Far away
The ship is taking me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

Starlight
I will be chasing the starlight
Until the end of my life
I don't know if it's worth it anymore

Hold you in my arms
I just wanted to hold
You in my arms

My life
You electrify my life
Let's conspire to ignite
All the souls that would die just to feel alive

But I'll never let you go
If you promised not to fade away
Never fade away

Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my arms
I just wanted to hold
You in my arms

Far away
The ship is taking me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

And I'll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away

Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my arms
I just wanted to hold
You in my arms
I just wanted to hold

Ping Pong

O comeback de um amigo blogger (que motivou-me a começar o meu próprio, em primeiro lugar) acabou por despoletar um (espero que assim seja) diálogo, ainda que indirecto ou subentendido.

Tal como ele, eu também sinto bastantes vezes um forte bloqueio. Tenho um computador no meu quarto, o que já elimina a necessidade(que não geraria nenhum impulso!) de escrever no trabalho. Ao contrário dele, no entanto, sinto que, ao menos (e assim espero) de momento, não tenho tantas idéias assim.

Ou pior, que não sinto necessidade ou utilidade em transmití-las. Talvez por crer que o conhecimento, qualquer que seja, para ser transmitido, depende primeiramente de amor. Na verdade, a transmissão seria um acto de amor em sí. Isso é o que difere um bom professor de um mal, o carinho, a paixão. Mas não nos perdamos.

Creio que inconscientemente, faz tempo que decidí ser "Spock". O problema é que não estou de todo seguro que não o seja/possa ser.

No meio tempo, pairo num limbo o qual é retroalimentado por mim mesmo. Uma espiral de desculpas que se amontoam e impedem-me de fazer qualquer coisa de criativo. Produzir, afinal de contas, é comunicar. Se sinto necessidade de gritar mas sem importar se me escutam, existe comunicação? É pertinente então transmitir algo? A quem?

Meu buffer, como ele menciona, está cheio, mas de outra maneira. A minha sorte é ter uma mente bastante associativa, o que me permite eleger um tema e divagar, sobre o que for. Se a divagação chega a algum lado , isso já é outra história. No final desta, quase seguramente, haverá mais perguntas que no início de sua leitura (ao menos assim espero).

De momento, minha única certeza é a de que preciso fazer um reset (sim, actualmente, utilizamos o método inverso e adoptamos terminologia informática para descrever acções humanas - quando
a informática proverá justamente da forma de pensar as mesmas). Isso, portanto, ficará para Dezembro, quando estarei por esses lados do Atlântico.

Até lá, outras coisas me irão movendo (assim pretendo).

Monday, October 23, 2006

A difícil tarefa

Às vezes antes de dormir, escuto uma voz dentro de minha cabeça, que me impele a agir de uma determinada forma, por assim dizer, correcta e justa. É uma espécie de esquizofrenia-moral. Supostamente saudável, essa espécide de grilo-falante invisível, converte-se em um flagelo que pode, entre outras coisas, privar-me de meu sagrado (e geralmente descontínuo) sono. Tal mazela conduz-me a escrever textos como este ao meio da noite.

Sempre tenho estado buscando uma resposta ao porquê de tal "sensação" ou agouro, tentando identificar um culpado por sua gênese. Com muito esforço, conseguí reduzir uma ampla lista a 3 factores básicos: 1)anos de injecção de um sentimento de culpa moral, fruto da chamada "educação católica"; 2) um sentimento de lógica humana geral (common sense), que poderia elevar-me à condição de profeta, caso lhe desse mais ouvidos; 3) (numa mistura dos pontos anteriores) a noção de que ao pertencer a uma classe melhor favorecida, em meio à miséria reinante no meu país de origem, ser-me-ia incumbida uma espécie de tarefa de ser um paladino da justiça e igualdade.

Ao falhar em estabelecer uma prioridade - se identificar o que é e como resolver/eliminar tal situação, ou se buscar um culpado e livrar o peso que sinto em minhas costas - sigo sofrendo. Uma vez mais, poderia aplicar o paradoxo do ovo e da galinha. Parece que as coisas são todas cíclicas e que tudo ao final, volta ao mesmo.
O sinal regressa à origem. Mas será assim sempre?

Todo esse tema volta a relacionar-se com manipulação. Em que medida sou levado a crer e agir segundo uma lógica alheia e contrária aos meus impulsos naturais? O que é inato e o que é fruto de catequese e dominação? Como ser coerente numa realidade cada vez mais cínica e hipócrita, onde os valores estão muitas vezes invertidos em nome do imediatismo? POrque afinal isso estaria errado?

Parece-me que cada vez mais, o dilema consiste em equilibrar as esferas pessoal (individual, celular) e colectivas (núcleos). Em que medida posso por a minha satisfação pessoal e imediata à frente do moralmente correcto estabelecido nítidamente em nome de um bem-estar colectivo - e que ao mesmo tempo, reverte-se a meu próprio benefício? Existe, sempre, uma tênue linha que separa o egoísmo do altruísmo (e vice-versa). E, a meu ver, por mais maquiavélico que tal pensamento possa ser, não vejo nada de errado com isso.

De certa forma, às vezes porto-me como um monge. Um monge que flagela-se a chicotadas por querer e afinal, não fazer aquilo que lhe dá nas ganas, culpando-se por ter certas idéias e impulsos. Pagando pelos erros de outros e decidindo não repetí-los.

O pior é que farto-me de enxergar conteúdos ultra-moralistas em obras de escritores que tanto aprecio e que de certa forma, profetizam um estilo de vida subversivo - segundo a óptica cristã anteriormente mencionada. Bukowski, Kerouac, Cohen, ... Todos eles redimem-se passando-nos divagações próprias acerca de seus excessos cometidos. Entretanto, tais excessos consistiam não em excessões, mas em regras comportamentais suas.

Que falta faz afinal manter uma "coerência" (moral)? Será isso apenas que nos caracterizaria por indivíduos? Como sê-lo, então, possuindo os mesmos valores?

Luke Rhinehart, em seu livro "o homem dos dados", propõem-nos imaginar um homem livre de amarras ditadas pela sua educação e origem. Ditado simplesmente pelo acaso e pelo seguir de seus impulsos primordiais, esse fulano seria, supostamente livre e mais são que os demais. Uma espécie de solução definitiva à multitude de factores e incógnitas com os quais devemos confrontar-nos no mundo "actual"(o livro foi escrito nos anos 50 do século XX), que nos apresenta situações de natureza caótica e de resolução contraditória - por vezes, esquizofrênicas até.

Ao vomitar tais pensamentos, que quase sinto como que não sendo meus, mas adquiridos por uma estranha osmose, provenientes do meu dia-a-dia; sinto haver calado/acalmado tal zumbido. Ao menos por hoje. Espero lograr em dormir bem. Amanhã é segunda-feira, e começo a ceder à paranóia colectiva que a fronteira ultrapassada do domingo supõe.

Sweet dreams e uma boa semana. Black holes & revelations aproximam-se.

Sunday, October 15, 2006

Sarcasmo em estado de graça I

Arrested Development

A seguir assim, este Blog se converterá em um retransmissor de 'Youtubes'. Tudo bem, desde que sirva uma boa causa, sendo essa uma peneirada no lixo que há por lá. (sendo franco, há de tudo, e é fascinante)

Como já havia referido num post anterior, achei interessante partilhar um pequeno vídeo sobre um dos personagens da série "Arrested development" - um título que tem muitos significados.

N-joy.

Friday, October 13, 2006

Mestres do cotidiano I

Jerry Seinfeld

Seguindo a lógica do post anterior, há pessoas que não vêem sentido em nada. Outras, por sua vez, necessitam de muito pouco para dizer muito.

Apenas uma amostra do alto poder que possui este ser humano de sacar o máximo das situações "mais mínimas" do dia-a-dia.

Que Jorge, que nada! Salve Jerry! Hail, hail!


Tirando a limpo

OK, deixando de viadagem por aqui... Não se trata de chutar o pau da barraca nem de agredir ninguém, mas este espaço, já pelo texto que define o título, começou mal.

Primeiro, os textos soam-me demasiadamente pomposos e com a visível pretensão de derrubar muralhas. Felizmente, não sou nem quero ser Lair Ribeiro. Nem ele, nem nenhum outro charlatão profeta da auto-ajuda. De agora em diante, experimentarei a lógica do Jack Kerouak, de escrever directamente, de forma quase compulsiva, deixando pouco espaço para a auto-crítica estilística e tentando chegar o mais perto possível daquilo de que cada vez mais me tenho distanciado, minhas emoções.

Neste momento, a emoção que sinto é raiva. Raiva do tipo entranhado, misturado às tripas, parte do meu ser, não corpo estranho. Do tipo que espera ansiosa a menor desculpa para sair e explodir, mesmo que seja na minha própria cara. Saudável, não? Creio que um terapeuta diria, "isso, ponha tudo para fora". Será tudo justificado? Porque existe a necessidade de partilhar tudo? Que tipo de pergunta é "como vai você?" Alguém verdadeiramente se importa?

Com a quantidade de cinismo existente no mundo, visível nas pequenas hipocrisias do dia-a-dia, me pergunto se vale a pena algo como escrever um diário. Onde está a fronteira que define a saudável expressão do ser, a partilha de sensações (sejam estas quais forem) com outras pessoas (isso é viver em comunidade, ainda que binária), de um simples exercício exibicionista?

Com tantas coisas no cotidiano capazes de tirar-me mais e mais abaixo, busco cada vez mais apoio naqueles que a meu ver, restauram-me a esperança na raça humana. Seria alienação algo que afinal constantemente utilizo como arma para confrontar os problemas que me surgem diante? Aquilo que ajuda-me na minha actividade criativa e acutiza a minha percepção do cada vez mais (rapidamente) cambiante universo que me rodeia?

Venho de uma sessão contínua de 6 episódios (talvez mais) da brilhante série "Arrested Development", que há pouco foi-me recomendada por um grande amigo meu. Grande pela proximidade que sinto em relação a ele, e maior pela sua humildade, mascarada, denotada no seu jeito espontâneo de ser. Uma coisa aparentemente tão pequena, é suficiente para alegrar-me e inspirar-me: ver alguém que sem ser cabeça-dura, aprendeu a estar bem consigo mesmo, sem estar de mal com todos ao seu redor.

Esta série, conta-nos, através das peripécias dos membros de uma família sanguessuga de sua própria empresa, um sem-número de situações tragi-cômicas. Acontecimentos e opiniões de conteúdo bastante sarcástico e agressivo, que ao revelar as pequenas tragédias e falhas de cada membro da família Bluth, obriga-nos a repensar os nossos próprios valores e a encarar a nossa humana trivialidade. Sem cair na pieguice nem em moralismos inúteis.

Sem ser o bom da fita, é isso que o meu amigo me revela. Que não somos nem necessitamos ser perfeitos, mas que isso não significa que devamos ser laxistas, tampouco desesperados.

Não é fácil ser uma rocha. Obrigado por resistir. Keep rolling!

Monday, October 09, 2006

Black days hanging around

Como tudo na vida, estados de humor são algo cíclico e podem ser bastante traiçoeiros. O "pior" é quando encontramos algo que os respalde, que os mantenha onde estão (no caso de serem maus).

É o caso desta música, que veio-me à cabeça nesses últimos dias, através do comentário de um amigo e gerou um dilema típico do caso Ovo x Galinha. Não sei se foi o meu estado de espírito que a trouxe à minha mente, ou se é ela a culpada por esta sensação que há dias se arrasta e faz-me curti-la como o sado-masoquista que às vezes posso ser.

Aqui vai:

Tighter & Tighter (Soundgarden - Down on the upside)

Shadow face
Blowing smoke and talking wind
Lost my grip
Fell too far to start again
A sudden snake
Found my shape and tells the world
Remember this
Remember everything is just black
Or burning sun

And I hope it's a sweat ride
Slip tight for me
Sleep tight for me I'm gone

Warm and sweet
Swinging from a window ledge
Tight and deep
One last sin before I'm dead
A sucking holy wind
Will take me from this bed tonight
And blow the wits
Another hits me and I have to say goodbye

And I hope it's a sweet ride
Here for me tonight
Cause I feel I'm going
Feel I'm slowing down


[Pra não perder o espírito, confiram a combinação perfeita entre som e imagem - enquanto traducções de uma obra prima de um deus do "comic", Frank Miller: 300

Sunday, October 08, 2006

Genial

Royksopp - Remind Me

Este vídeo, se não me engano, ganhou tempos atrás um prêmio da MTV Europe por melhor vídeo. Casando uma música maravilhosa com imagens de forma perfeita, o vídeo produz-me uma sensação de quase pânico ao evocar o stress constante do dia-a-dia Inglês. Talvez pela perfeição imaculada do traço e pela animação robótica dos elementos, que parecem funcionar como uma máquina. Ao mesmo tempo, tal sensação converte-se em gozo, ao ser relativizada, no final, quando passa-se à análise do Japão, indicando que a espiral frenética mostrada segue ao redor do mundo. Simplesmente fenomenal. Prêmio mais que merecido.

Falta de absurdo

Lí hoje que David Lynch, um dos meus ídolos maiores, está na zona em que vivo para mais um certame de um conhecido festival de cinema fantástico. Lí com muito gosto que desta vez, ele seria o principal homenageado e que iriam tentar exibir o seu novíssimo filme em primeira mão no país. Lí isso voando de volta pra casa.

Entre o cansaço da viagem e a sensação de haver estado 4 dias ausente daqui, valeu mais a segunda e por isso, agora escrevo.

É difícil precisar, mas talvez a razão maior pela qual admiro Lynch é pela sua capacidade de incutir o absurdo nas suas produções. Do que o meu escasso conhecimento permite discernir, creio que Fellini seria o que mais próximo vejo de sua obra, por apresentar tal elemento bastante presente em seus filmes.

Farto-me de ler críticas (algo que faço sempre simplesmente com efeito de baliza e POSTERIOR à visualização das obras em questão, após a formação de uma opnião própria sobre esta) sobre seus filmes, classificando-os de "devaneios", "pesadelos" e "situações fantasmagórico-surreais", "esquizofrenia visual/narrativa" (Lost Highway, Mullholland Drive, Eraserhead,...) e apesar de encará-las como válidas, considero-as ultra limitadas. Opniões fruto de mentes habituadas ao padrão linear determinado pelo standard industrial de produção criado em Hollywood (de uma forma generalizada, mas não total, felizmente!), que entrega filmes como bolos preparados com a intromissão do público em sua preparação. Onde não há margem para variedade, exploração e a liberdade artística dobra-se ao gosto do freguês, porque ele é rei.

David Lynch, no entanto, surpreende, pelo grande poder de liberdade que apresenta de conseguir passar suas idéias ao mercado, vendendo-as com sucesso, mesmo que incondizentes com os rótulos que recebem.

O absurdo, o inexplicável e o vago em seus filmes, a meu ver, representam a sua sublime capacidade de atribuir realismos fantásticos à situações inverossímeis. Que coisa existe afinal, de mais absurda e subjectiva que a realidade? O nosso dia-a-dia é recheado de situações que não compreendemos e que ficam por explicar. Postas de parte, relativizadas e transformadas em tabús, tais situações são incômodos temas de conversa e, portanto, não merecem atenção. Carecem de importância. Ao revelar, em Veludo Azul, uma série de realidades abomináveis, tão rentes à superfície, mas ainda assim, invisíveis a todos os que vivem numa (aparentemente) pacata cidadezinha do interior dos Estados Unidos, é para mim digna de um mestre. E de que forma tais coisas são reveladas!

A realidade não é unidimensional. Ao contrário do que muitos crêem, não temos todas as explicações para as coisas e nem tudo quiçás se explique. A ciência meramente é um acto estatístico desenvolvido pelo ser humano. Mede-se uma série de fenômenos e busca-se a definição de um padrão, que materializa-se em uma fórmula. Entretanto, mesmo as melhores fórmulas não conseguem ser absolutas, e hão-de considerar um chamado "desvio-padrão". Por isso diz-se, em toda a regra existe uma excepção, e esta a confirma.

Chamem-no de distorcido e de absurdo, mas da forma como o vejo, é o director de cinema que mais parece saber o que é brincar de ser Deus. Ele compreende que não há um cravo moral que rege o universo, e limita-se a mostrar-nos uma sucessão de factores que levam a um fenômeno. O problema na definição dos seus filmes, a meu ver, vistos que nenhum filme necessita ser definido, senão que por practicidade de disposição nas paredes de um vídeoclube; é que muita gente se assusta facilmente com o que finais abertos implicam. Em uma realidade caótica, as pessoas pedem por espectáculos com linearidade e ordem matemáticas(Coisas que não se encontra na vida real). A lógica do mercado cinematográfico tem de seguir a dos produtos que se consomem durante a sua exibição: de rápido consumo, digestão e fadados ao esquecimento instantâneo (que gera a necessidade de mais e mais).

Um viva a Lynch, o cineasta perturbado mais lúcido da actualidade! Hip, Hip,...


[Necessito urgentemente descansar e transformar esse rascunho em um texto discernível... Ou não!]

Thursday, October 05, 2006

Descomprimindo

Kung Fu Casting

Para não pesar demais o ambiente aqui com situações densas e deevagações demasiado filosóficas (de botequim ou nem tanto), começarei a postar coisas que me agradam, que admiro, factos curiosos e assuntos do meu interesse geral.

O de hoje é um vídeo que simplesmente tenho de rir a cada vez que o vejo. Dá-me uma certa pena dos ridículos pelos quais esses sujeitos passam, mas ao mesmo tempo, não deixa de seguir a lógica de gente que finge ser o que não é e que expõe-se sozinha ao patético.

Wednesday, October 04, 2006

Umbiguismo e culpabilidade

Hoje tentarei ser breve. Antes de mais, cabe dizer que a cada dia, nesta primeira semana de Blog, tenho estado testando distintas formas de comunicar-me. Trata-se um pouco de praticar o espírito (ainda não tão mostrado) variado (a que se propõe) deste blog. Tem sido difícil manter uma constância diária, apesar de encontra-me no meu quarto dia consecutivo. Nos próximos dias, infelizmente, estarei ausente, devido a uma viagem a trabalho. Continuemos.

Hoje a caminho do trabalho ocorreu-me um pensamento recorrente, o da capacidade do ser humano em querer culpar a outros pelos seus males. Tento sempre, quiçás movido por razões profissionais, deconstruir cada aspecto do dia-a-dia humano, desde as situações mais complexas até chegar aos factos mais simples e básicos. Tal comportamento me é quase inerente, não podendo precisar quando há começado, antes ou depois de minha formação acadêmica. Sua explicação é bastante práctica: ao ter de projectar um dado producto, tenho primeiramente de chegar a questionar o seu conceito, o que ele faz/para que serve e como há sido o seu desenvolvimento e evolução ao longo de sua história. O que se pretende gerar de novo e porquê. E assim por diante. Cada resposta a tais questões aporta-me algo ao qual posso agregar a minha contribuição pessoal. O fundamental é seguir buscando, até encontrar algum ponto que nos leve a uma questão que não consigamos responder. Aí estará muito provavelmente o valor agregado (mais-valia) dessa nova criação. Assim evolui-se e evoluímos.

Apesar de amplamente ensinada e difundida em universidades de Arquitectura e Design, tal técnica não é algo evidente. Requer observação, paciência, perseverança e sobretudo, humildade.

Acredito no que sempre me diz a minha mãe, que na vida solução só não existe pra morte. E mesmo para isso se calhar algum dia exista! Como fruto do hábito constante de questionar a tudo e a todos, tendo a deter-me nas pessoas enquanto conjuntos. Nestes, reside pouca importância bandeiras, raças ou cores. Detenho-me naqueles aspectos ditos "universais". Inerentes aos seres humanos enquanto animais. Creio que na nossa rotina diária de segunda-a-sexta de trabalho e sábados e domingos livres, nos encontramos por vezes presos nas convenções do tempo. Tais convenções por sua vez, levam-nos a sentirmo-nos prisioneiros de um patrão-capataz que nos quita 11 meses de vida em câmbio de nossa subsistência e 1 mês
de ilusão de liberdade.

Tornamo-nos assim, peças de uma engrenagem, que segue padrões estabelecidos por outra (o Estado) e que por sua vez encontra-se em outra (uma realidade continental e a seguir global). Tais estructuras tornam-se rígidas e a conceitos como educação, saúde, segurança, governo, agregam-se noções de tradição histórica e geralmente também espaços físicos específicos.

Creio que mesmo a mais complexa estructura existente seja passível de deconstruir-se e modificar-se. Nada é impossível, existe apenas o pouco provável. Assim, compreendo que à grande maioria das queixas das pessoas, citadas como motivos para a sua infelicidade, seria necessário apenas uma actitude para reverter tal quadro: a eliminação da práctica do umbiguismo. Cada um só vê as coisas segundo a SUA óptica pessoal e em função de sua situação específica. Não se tenta colocar-se uma vez sequer no papel do próximo. Cada um tem razão e todos estão errados. Sei que soa simplista, mas a meu ver é a actitude mais simples, e a menos tentada. Não se muda ao mundo se não se é capaz de mudar-se a si mesmo. Algo apenas molesta se permitirmos que nos moleste. Culpemos menos aos governos, aos demais e assumamos mais nossas falhas e corrijamos-las. O inferno somos nós mesmos.

Tuesday, October 03, 2006

Os imbecis e o óbvio

Estava demorando um pouco, mas a tal ponto chegamos. Refiro-me a algo que (infelizmente) creio que muita gente pensa de mim: que dedico-me a reclamar das coisas. Na verdade, vai por esse caminho mas um pouco além. Referia-me mais especificamente a lançar uma espécie de carga negativa pro ar. Longe está isso de ser a minha intenção. Leia-se, portanto, tal texto como se fora uma espécie de alerta sobre uma actitude a evitar!

Há alguns meses, a minha mesa de trabalho ganhou um novo ocupante. Trata-se de um jovem mancebo. Um "boy" de vinte e poucos (isso soa muito velho de minha parte, mas já tenho a minha forma de escrever para lembrar-me disso). Até aí nada de mal. O problema é que aos dois dias na empresa, o garoto resolveu mostrar que tinha carácter. [O detalhe é que eu não falo com o meu "colega" imediatamente ao meu lado na mesa] Eis que ele dirige-se ao meu vizinho e manda algo como "não sei onde as pessoas vêem tanta genialidade em (Verner) Panton" [Designer-ícone Dinamarquês] e continua, "tudo o que ele criou eram resultados óbvios dos métodos de producção que ele adoptava"...

Ao ver que o meu vizinho (e ex-companheiro de faculdade) resumia a sua resposta com um "Não curto falar de Design. Prefiro política, porque trata de pessoas", vejo que mesmo contra a minha vontade, não poderia deixar passar tal blasfêmia em branco. [O detalhe desta vez foi esse energúmeno pensar que existe algum aspecto do (bom) Design que não "trate de pessoas". Além do mais, ele é um completo fascista!]

Nisso, contesto em forma de pergunta (pois não queremos impingir nada a ninguém, para além do que, é sempre melhor quando expomos um arrogante à sua própria ignorância) algo como, "Óbvio quando? Para quem?". Consternado, o rapaz pergunta-me o que eu queria dizer com aquilo. Vendo que a conversa teria potencial para monólogo, decido que há coisas que não cabe a ninguém ensinar a certas pessoas. Algo como meter um dedo numa tomada. Por mais que alertem, só aprendes bem quando o fazes. Respondo então com um simples "Se calhar, aí reside a genialidade desse senhor! Ele conhecia tão a fundo os processos que utilizava, e isso na época da criação de tal método de producção (estamos falando aqui de mobiliário em plástico), que talvez tenha chegado mesmo a definir os seus 'limites' ou características que lhe definem ao dia de hoje". Ficou subentendido um "para que arrogantes como você acreditem-se gênios".

Não me recordo do que seguiu-se, mas lembro bem que não durou muito. Recebí uma pergunta evasiva como resposta, referente a algo congênere mas não directamente similar ao tema que discutíamos. Talvez uma técnica aprendida num desses livrinhos de blefes, que se vende por toda parte. Daí pude ver que "o" personagem em questão era um daqueles fogos de palha, recheados de trunfos(bombinhas) na manga, prontos a ser distribuídos, destinados a ganhar uma discussão. Já há muito, abandonei a cidade onde viví quase toda a minha vida (ao dia de hoje, isto resume-se a 2/3 da mesma), por crer-me farto desse tipo de gente. Tyler Durden diria "gente que não escuta e tão-somente espera o seu turno para falar". Com isso, resolví mergulhar no meu aquário, desta vez, projectando diante de um monitor, e não vagando pelas ruas da cidade.

Antes irritava-me profundamente cruzar com pessoas que emitiam expressões como "evidente", "claro" ou "óbvio" (sem dúvida, a mais enervante). Ultimamente, no entanto, tento ver tal coisa como uma espécie de filtro. Isso revela o tipo de personagem a assumir enquanto resolva participar de qualquer discussão. Normalmente, sei que em tais situações passo por tonto, mas o que pensam de mim já não me importa tanto. O grau de dano que isso me possa causar é directamente proporcional ao nível de proximidade (pessoal) com aquele(a) que o profere. Assim, sei que tenho uma boa margem de escudo: minha ilha segue à deriva.

[Creio que o texto ficou por concluir, pois muito ficou por dissertar por aqui, mas como não acredito em absolutos (não sou um Sith), e não tenho (nem acredito) em "verdades de ouro", ou "palavra de rei", deixo a ponta solta, à espera que o vento traga-me mais linhas para os remendos...]

Monday, October 02, 2006

Deevagando pela cidade

Ontem foi dia de eleições no Brasil. Como vivo fora, tinha de apresentar-me ao consulado para votar, mas apenas para presidente. Esse, no entanto, mais além de "exercer o meu direito à cidadania" (que contrasenso isso de exercer a cidadania no Brasil, vivendo em um outro país...), foi mais um mote para perambular por essa maravilhosa cidade (nome propositadamente omitido).

Andando com os meus headphones postos, dou-me conta de que sair de casa é como uma imersão no mundo exterior. "Imersão" no sentido de que ponho o meu aquário musical na cabeça e distancio-me do mundo. Vislumbro gente que passa e vejo que há muitas pessoas fazendo o mesmo. Criamos redomas pessoais, esquivando-nos de situações (ao menos verbalmente) embaraçosas com os demais. Qualquer tipo de interacção seria deixado para o lado visual, portanto. Mesmo assim, a coisa já complica quando realizo que levo postos os meus óculos escuros ; mas não por falta de colírio, como dizia a canção, e sim como uma capa extra de isolamento pessoal.

Os óculos escuros e os Walkmans (iPods ou diabo que o valha) são os "condoms" mais socialmente aceitos e difundidos que há! Assim, não há motivo nem razão para confusões. Palavras ditas por alguém não serão mal interpretadas por mim, insultos passar-me-ão desapercebidos e aquele otário que me olhava com cara de despeito foi embora frustrado quiçás, por não ter logrado passar de um zero à esquerda da esquerda no meu conceito. Também é verdade que aquela deixa da menina bonita que passou, caiu no vazio e não se transformou em cantada. E não existe tal coisa como uma foda adiada... (sim, sou bem mais directo agora)

Um pensamento antigo vem-me à mente: cada ser humano é uma ilha. Por vezes, conectamos com outras e criamos a noção de pertencer a algo maior, formamos continentes. No estado actual das coisas, vislumbro arquipélagos dispersos pelo mundo. Apesar de estarem longe, sei que, felizmente, quando me acerco, ainda que temporariamente, somos península.

Voltando à "realidade" desse dia em específico, aproximo-me do consulado Brasileiro e à minha banda sonora particular agregam-se camadas de ruído e trechos de conversações das cercanias.
Retiro os headphones e escuto distintos grupos de brasileiros falando do mesmo. Não falam das eleições, o tema é a inexistência de uma comunidade tupiniquim no exterior. Cada um relata alguma experiência própria e todos são unânimes no espanto com as reacções de outros brasileiros ao cruzar-se com conterrâneos no estrangeiro: parece que todos esperam o pior um do outro, que cada qual tenta aproveitar-se dos demais da pior maneira possível.

Apago a música, desconecto o telefone e sigo as instrucções para votar. Meu único pensamento em todo o processo, desde a minha entrada no local até o momento em que o abandono, é a sensação de comunhão colectiva com os demais na "estranheza", e nesse momento, sinto que sou parte de uma comunidade.

Saio à rua e as conversas seguem o mesmo rumo. Nenhuma fala do suposto tema do dia. Escuto a provável deixa de alguém mais próximo de mim sobre uma suposta "aura de superioridade" de alguns brasileiros perante seus compatriotas. Ponho os fones, activando o meu aquário/borbulha actimel com banda sonora e sigo rumo à casa. O continente nunca pareceu tão longe...

Sunday, October 01, 2006

O duro início

No princípio, pareceu-me disparatada a idéia de criar um blog próprio. Compartir pensamentos pessoais com um universo potencialmente superior àquele formado pelos meus amigos e conhecidos mais íntimos. Uma sensação mista de fanfarronice com exibicionismo impedia-me de fazê-lo.

Entretanto, a constatação de que algo reduzira o meu número de posts nos blogs de amigos meus, denunciou-me o acto subconsciente de exigir uma producção própria.

Assim, inspirado por uma mistura do proposto por Wasgs, Mascis e principalmente pelo grande Queequeg e seu um-por-dia.blogspot.com, decidí revelar a um ritmo frequente, quiçás diário, minhas idéias e pensamentos, em qualquer mídia (todas são pertinentes: textos, fotos, vídeos, desenhos, HQ´s...), sobre tudo (ou quase) que me ocorre e que é processado pelo meu cérebro, a partir de tudo aquilo que consumo e que me rodeia.

O nome inicialmente deste Blog deveria ser "draft" (ou esboço, rascunho), mas como nenhum dos nomes era possível, pareceu-me bem o termo "divagar", pois torna-se apropriado pelo sentido inicial e já contém em si uma livre-associação. Gosto imenso de estudar as raízes das palavras. Trabalho com conceitos que têm de ser constantemente deconstruídos para que gerem algo novo. Nada melhor então que buscá-los em palavras, nos nomes das coisas.

Isto aqui já se está a extender mais do que o pretendido e era para ser apenas uma breve introdução. Então já está, pode-se dar por inaugurado este Blog. Começa como aquilo que pretende ser, algo modesto, mas que de alguma forma tenta contribuir com algo meu na vida daqueles que o lêem.

Abraços