Thursday, October 05, 2006

Descomprimindo

Kung Fu Casting

Para não pesar demais o ambiente aqui com situações densas e deevagações demasiado filosóficas (de botequim ou nem tanto), começarei a postar coisas que me agradam, que admiro, factos curiosos e assuntos do meu interesse geral.

O de hoje é um vídeo que simplesmente tenho de rir a cada vez que o vejo. Dá-me uma certa pena dos ridículos pelos quais esses sujeitos passam, mas ao mesmo tempo, não deixa de seguir a lógica de gente que finge ser o que não é e que expõe-se sozinha ao patético.

Wednesday, October 04, 2006

Umbiguismo e culpabilidade

Hoje tentarei ser breve. Antes de mais, cabe dizer que a cada dia, nesta primeira semana de Blog, tenho estado testando distintas formas de comunicar-me. Trata-se um pouco de praticar o espírito (ainda não tão mostrado) variado (a que se propõe) deste blog. Tem sido difícil manter uma constância diária, apesar de encontra-me no meu quarto dia consecutivo. Nos próximos dias, infelizmente, estarei ausente, devido a uma viagem a trabalho. Continuemos.

Hoje a caminho do trabalho ocorreu-me um pensamento recorrente, o da capacidade do ser humano em querer culpar a outros pelos seus males. Tento sempre, quiçás movido por razões profissionais, deconstruir cada aspecto do dia-a-dia humano, desde as situações mais complexas até chegar aos factos mais simples e básicos. Tal comportamento me é quase inerente, não podendo precisar quando há começado, antes ou depois de minha formação acadêmica. Sua explicação é bastante práctica: ao ter de projectar um dado producto, tenho primeiramente de chegar a questionar o seu conceito, o que ele faz/para que serve e como há sido o seu desenvolvimento e evolução ao longo de sua história. O que se pretende gerar de novo e porquê. E assim por diante. Cada resposta a tais questões aporta-me algo ao qual posso agregar a minha contribuição pessoal. O fundamental é seguir buscando, até encontrar algum ponto que nos leve a uma questão que não consigamos responder. Aí estará muito provavelmente o valor agregado (mais-valia) dessa nova criação. Assim evolui-se e evoluímos.

Apesar de amplamente ensinada e difundida em universidades de Arquitectura e Design, tal técnica não é algo evidente. Requer observação, paciência, perseverança e sobretudo, humildade.

Acredito no que sempre me diz a minha mãe, que na vida solução só não existe pra morte. E mesmo para isso se calhar algum dia exista! Como fruto do hábito constante de questionar a tudo e a todos, tendo a deter-me nas pessoas enquanto conjuntos. Nestes, reside pouca importância bandeiras, raças ou cores. Detenho-me naqueles aspectos ditos "universais". Inerentes aos seres humanos enquanto animais. Creio que na nossa rotina diária de segunda-a-sexta de trabalho e sábados e domingos livres, nos encontramos por vezes presos nas convenções do tempo. Tais convenções por sua vez, levam-nos a sentirmo-nos prisioneiros de um patrão-capataz que nos quita 11 meses de vida em câmbio de nossa subsistência e 1 mês
de ilusão de liberdade.

Tornamo-nos assim, peças de uma engrenagem, que segue padrões estabelecidos por outra (o Estado) e que por sua vez encontra-se em outra (uma realidade continental e a seguir global). Tais estructuras tornam-se rígidas e a conceitos como educação, saúde, segurança, governo, agregam-se noções de tradição histórica e geralmente também espaços físicos específicos.

Creio que mesmo a mais complexa estructura existente seja passível de deconstruir-se e modificar-se. Nada é impossível, existe apenas o pouco provável. Assim, compreendo que à grande maioria das queixas das pessoas, citadas como motivos para a sua infelicidade, seria necessário apenas uma actitude para reverter tal quadro: a eliminação da práctica do umbiguismo. Cada um só vê as coisas segundo a SUA óptica pessoal e em função de sua situação específica. Não se tenta colocar-se uma vez sequer no papel do próximo. Cada um tem razão e todos estão errados. Sei que soa simplista, mas a meu ver é a actitude mais simples, e a menos tentada. Não se muda ao mundo se não se é capaz de mudar-se a si mesmo. Algo apenas molesta se permitirmos que nos moleste. Culpemos menos aos governos, aos demais e assumamos mais nossas falhas e corrijamos-las. O inferno somos nós mesmos.

Tuesday, October 03, 2006

Os imbecis e o óbvio

Estava demorando um pouco, mas a tal ponto chegamos. Refiro-me a algo que (infelizmente) creio que muita gente pensa de mim: que dedico-me a reclamar das coisas. Na verdade, vai por esse caminho mas um pouco além. Referia-me mais especificamente a lançar uma espécie de carga negativa pro ar. Longe está isso de ser a minha intenção. Leia-se, portanto, tal texto como se fora uma espécie de alerta sobre uma actitude a evitar!

Há alguns meses, a minha mesa de trabalho ganhou um novo ocupante. Trata-se de um jovem mancebo. Um "boy" de vinte e poucos (isso soa muito velho de minha parte, mas já tenho a minha forma de escrever para lembrar-me disso). Até aí nada de mal. O problema é que aos dois dias na empresa, o garoto resolveu mostrar que tinha carácter. [O detalhe é que eu não falo com o meu "colega" imediatamente ao meu lado na mesa] Eis que ele dirige-se ao meu vizinho e manda algo como "não sei onde as pessoas vêem tanta genialidade em (Verner) Panton" [Designer-ícone Dinamarquês] e continua, "tudo o que ele criou eram resultados óbvios dos métodos de producção que ele adoptava"...

Ao ver que o meu vizinho (e ex-companheiro de faculdade) resumia a sua resposta com um "Não curto falar de Design. Prefiro política, porque trata de pessoas", vejo que mesmo contra a minha vontade, não poderia deixar passar tal blasfêmia em branco. [O detalhe desta vez foi esse energúmeno pensar que existe algum aspecto do (bom) Design que não "trate de pessoas". Além do mais, ele é um completo fascista!]

Nisso, contesto em forma de pergunta (pois não queremos impingir nada a ninguém, para além do que, é sempre melhor quando expomos um arrogante à sua própria ignorância) algo como, "Óbvio quando? Para quem?". Consternado, o rapaz pergunta-me o que eu queria dizer com aquilo. Vendo que a conversa teria potencial para monólogo, decido que há coisas que não cabe a ninguém ensinar a certas pessoas. Algo como meter um dedo numa tomada. Por mais que alertem, só aprendes bem quando o fazes. Respondo então com um simples "Se calhar, aí reside a genialidade desse senhor! Ele conhecia tão a fundo os processos que utilizava, e isso na época da criação de tal método de producção (estamos falando aqui de mobiliário em plástico), que talvez tenha chegado mesmo a definir os seus 'limites' ou características que lhe definem ao dia de hoje". Ficou subentendido um "para que arrogantes como você acreditem-se gênios".

Não me recordo do que seguiu-se, mas lembro bem que não durou muito. Recebí uma pergunta evasiva como resposta, referente a algo congênere mas não directamente similar ao tema que discutíamos. Talvez uma técnica aprendida num desses livrinhos de blefes, que se vende por toda parte. Daí pude ver que "o" personagem em questão era um daqueles fogos de palha, recheados de trunfos(bombinhas) na manga, prontos a ser distribuídos, destinados a ganhar uma discussão. Já há muito, abandonei a cidade onde viví quase toda a minha vida (ao dia de hoje, isto resume-se a 2/3 da mesma), por crer-me farto desse tipo de gente. Tyler Durden diria "gente que não escuta e tão-somente espera o seu turno para falar". Com isso, resolví mergulhar no meu aquário, desta vez, projectando diante de um monitor, e não vagando pelas ruas da cidade.

Antes irritava-me profundamente cruzar com pessoas que emitiam expressões como "evidente", "claro" ou "óbvio" (sem dúvida, a mais enervante). Ultimamente, no entanto, tento ver tal coisa como uma espécie de filtro. Isso revela o tipo de personagem a assumir enquanto resolva participar de qualquer discussão. Normalmente, sei que em tais situações passo por tonto, mas o que pensam de mim já não me importa tanto. O grau de dano que isso me possa causar é directamente proporcional ao nível de proximidade (pessoal) com aquele(a) que o profere. Assim, sei que tenho uma boa margem de escudo: minha ilha segue à deriva.

[Creio que o texto ficou por concluir, pois muito ficou por dissertar por aqui, mas como não acredito em absolutos (não sou um Sith), e não tenho (nem acredito) em "verdades de ouro", ou "palavra de rei", deixo a ponta solta, à espera que o vento traga-me mais linhas para os remendos...]

Monday, October 02, 2006

Deevagando pela cidade

Ontem foi dia de eleições no Brasil. Como vivo fora, tinha de apresentar-me ao consulado para votar, mas apenas para presidente. Esse, no entanto, mais além de "exercer o meu direito à cidadania" (que contrasenso isso de exercer a cidadania no Brasil, vivendo em um outro país...), foi mais um mote para perambular por essa maravilhosa cidade (nome propositadamente omitido).

Andando com os meus headphones postos, dou-me conta de que sair de casa é como uma imersão no mundo exterior. "Imersão" no sentido de que ponho o meu aquário musical na cabeça e distancio-me do mundo. Vislumbro gente que passa e vejo que há muitas pessoas fazendo o mesmo. Criamos redomas pessoais, esquivando-nos de situações (ao menos verbalmente) embaraçosas com os demais. Qualquer tipo de interacção seria deixado para o lado visual, portanto. Mesmo assim, a coisa já complica quando realizo que levo postos os meus óculos escuros ; mas não por falta de colírio, como dizia a canção, e sim como uma capa extra de isolamento pessoal.

Os óculos escuros e os Walkmans (iPods ou diabo que o valha) são os "condoms" mais socialmente aceitos e difundidos que há! Assim, não há motivo nem razão para confusões. Palavras ditas por alguém não serão mal interpretadas por mim, insultos passar-me-ão desapercebidos e aquele otário que me olhava com cara de despeito foi embora frustrado quiçás, por não ter logrado passar de um zero à esquerda da esquerda no meu conceito. Também é verdade que aquela deixa da menina bonita que passou, caiu no vazio e não se transformou em cantada. E não existe tal coisa como uma foda adiada... (sim, sou bem mais directo agora)

Um pensamento antigo vem-me à mente: cada ser humano é uma ilha. Por vezes, conectamos com outras e criamos a noção de pertencer a algo maior, formamos continentes. No estado actual das coisas, vislumbro arquipélagos dispersos pelo mundo. Apesar de estarem longe, sei que, felizmente, quando me acerco, ainda que temporariamente, somos península.

Voltando à "realidade" desse dia em específico, aproximo-me do consulado Brasileiro e à minha banda sonora particular agregam-se camadas de ruído e trechos de conversações das cercanias.
Retiro os headphones e escuto distintos grupos de brasileiros falando do mesmo. Não falam das eleições, o tema é a inexistência de uma comunidade tupiniquim no exterior. Cada um relata alguma experiência própria e todos são unânimes no espanto com as reacções de outros brasileiros ao cruzar-se com conterrâneos no estrangeiro: parece que todos esperam o pior um do outro, que cada qual tenta aproveitar-se dos demais da pior maneira possível.

Apago a música, desconecto o telefone e sigo as instrucções para votar. Meu único pensamento em todo o processo, desde a minha entrada no local até o momento em que o abandono, é a sensação de comunhão colectiva com os demais na "estranheza", e nesse momento, sinto que sou parte de uma comunidade.

Saio à rua e as conversas seguem o mesmo rumo. Nenhuma fala do suposto tema do dia. Escuto a provável deixa de alguém mais próximo de mim sobre uma suposta "aura de superioridade" de alguns brasileiros perante seus compatriotas. Ponho os fones, activando o meu aquário/borbulha actimel com banda sonora e sigo rumo à casa. O continente nunca pareceu tão longe...

Sunday, October 01, 2006

O duro início

No princípio, pareceu-me disparatada a idéia de criar um blog próprio. Compartir pensamentos pessoais com um universo potencialmente superior àquele formado pelos meus amigos e conhecidos mais íntimos. Uma sensação mista de fanfarronice com exibicionismo impedia-me de fazê-lo.

Entretanto, a constatação de que algo reduzira o meu número de posts nos blogs de amigos meus, denunciou-me o acto subconsciente de exigir uma producção própria.

Assim, inspirado por uma mistura do proposto por Wasgs, Mascis e principalmente pelo grande Queequeg e seu um-por-dia.blogspot.com, decidí revelar a um ritmo frequente, quiçás diário, minhas idéias e pensamentos, em qualquer mídia (todas são pertinentes: textos, fotos, vídeos, desenhos, HQ´s...), sobre tudo (ou quase) que me ocorre e que é processado pelo meu cérebro, a partir de tudo aquilo que consumo e que me rodeia.

O nome inicialmente deste Blog deveria ser "draft" (ou esboço, rascunho), mas como nenhum dos nomes era possível, pareceu-me bem o termo "divagar", pois torna-se apropriado pelo sentido inicial e já contém em si uma livre-associação. Gosto imenso de estudar as raízes das palavras. Trabalho com conceitos que têm de ser constantemente deconstruídos para que gerem algo novo. Nada melhor então que buscá-los em palavras, nos nomes das coisas.

Isto aqui já se está a extender mais do que o pretendido e era para ser apenas uma breve introdução. Então já está, pode-se dar por inaugurado este Blog. Começa como aquilo que pretende ser, algo modesto, mas que de alguma forma tenta contribuir com algo meu na vida daqueles que o lêem.

Abraços