Wednesday, October 04, 2006

Umbiguismo e culpabilidade

Hoje tentarei ser breve. Antes de mais, cabe dizer que a cada dia, nesta primeira semana de Blog, tenho estado testando distintas formas de comunicar-me. Trata-se um pouco de praticar o espírito (ainda não tão mostrado) variado (a que se propõe) deste blog. Tem sido difícil manter uma constância diária, apesar de encontra-me no meu quarto dia consecutivo. Nos próximos dias, infelizmente, estarei ausente, devido a uma viagem a trabalho. Continuemos.

Hoje a caminho do trabalho ocorreu-me um pensamento recorrente, o da capacidade do ser humano em querer culpar a outros pelos seus males. Tento sempre, quiçás movido por razões profissionais, deconstruir cada aspecto do dia-a-dia humano, desde as situações mais complexas até chegar aos factos mais simples e básicos. Tal comportamento me é quase inerente, não podendo precisar quando há começado, antes ou depois de minha formação acadêmica. Sua explicação é bastante práctica: ao ter de projectar um dado producto, tenho primeiramente de chegar a questionar o seu conceito, o que ele faz/para que serve e como há sido o seu desenvolvimento e evolução ao longo de sua história. O que se pretende gerar de novo e porquê. E assim por diante. Cada resposta a tais questões aporta-me algo ao qual posso agregar a minha contribuição pessoal. O fundamental é seguir buscando, até encontrar algum ponto que nos leve a uma questão que não consigamos responder. Aí estará muito provavelmente o valor agregado (mais-valia) dessa nova criação. Assim evolui-se e evoluímos.

Apesar de amplamente ensinada e difundida em universidades de Arquitectura e Design, tal técnica não é algo evidente. Requer observação, paciência, perseverança e sobretudo, humildade.

Acredito no que sempre me diz a minha mãe, que na vida solução só não existe pra morte. E mesmo para isso se calhar algum dia exista! Como fruto do hábito constante de questionar a tudo e a todos, tendo a deter-me nas pessoas enquanto conjuntos. Nestes, reside pouca importância bandeiras, raças ou cores. Detenho-me naqueles aspectos ditos "universais". Inerentes aos seres humanos enquanto animais. Creio que na nossa rotina diária de segunda-a-sexta de trabalho e sábados e domingos livres, nos encontramos por vezes presos nas convenções do tempo. Tais convenções por sua vez, levam-nos a sentirmo-nos prisioneiros de um patrão-capataz que nos quita 11 meses de vida em câmbio de nossa subsistência e 1 mês
de ilusão de liberdade.

Tornamo-nos assim, peças de uma engrenagem, que segue padrões estabelecidos por outra (o Estado) e que por sua vez encontra-se em outra (uma realidade continental e a seguir global). Tais estructuras tornam-se rígidas e a conceitos como educação, saúde, segurança, governo, agregam-se noções de tradição histórica e geralmente também espaços físicos específicos.

Creio que mesmo a mais complexa estructura existente seja passível de deconstruir-se e modificar-se. Nada é impossível, existe apenas o pouco provável. Assim, compreendo que à grande maioria das queixas das pessoas, citadas como motivos para a sua infelicidade, seria necessário apenas uma actitude para reverter tal quadro: a eliminação da práctica do umbiguismo. Cada um só vê as coisas segundo a SUA óptica pessoal e em função de sua situação específica. Não se tenta colocar-se uma vez sequer no papel do próximo. Cada um tem razão e todos estão errados. Sei que soa simplista, mas a meu ver é a actitude mais simples, e a menos tentada. Não se muda ao mundo se não se é capaz de mudar-se a si mesmo. Algo apenas molesta se permitirmos que nos moleste. Culpemos menos aos governos, aos demais e assumamos mais nossas falhas e corrijamos-las. O inferno somos nós mesmos.

1 comment:

Mascis said...

Perfeito, sem mais...