Tuesday, October 31, 2006

Mysterious ways

Como é bom escutar/ver algo que te toca no fundo, que te transmite um sentimento de comunhão com a pessoa que produziu tal obra, condensando em uma canção, em um desenho, pintura, fotografia ou filme (etc.) uma sensação (ou conjunto de) de tal forma que te parece impossível dissociar uma coisa da outra. De discernir o significante do significado.

Este é o título de uma das minhas músicas favoritas. E veja que sou um fã do U2 da velha guarda, não um late-comer da época Achtung Baby! Na minha opinião, música imprescindível de qualquer top ten da banda irlandesa.

Há algo na batida hipnótica que condensa o erotismo e a sensualidade do universo feminino, em sua melodia sinuosa e sibilante, em sua lírica urbana que conjura toda uma série de sensações, resumindo sem explicar o que para mim representam as mulheres. Maldição e redenção.

Prefiro evitar os colectivismos e falar na primeira pessoa, sem medos nem máscaras. A verdade é que por mais jovem que seja a mulher, não qualquer uma, mas aquela que me engancha e mesmo que não saiba porquê, me atrai; existe uma aura que se impõe e que deixa-me sentindo uma criança inocente e indefesa. É quando sinto estar diante de uma Mulher. Daquelas que enchem uma cama, que tiram-me dos eixos e fazem-me esquecer de todo o resto, que me mostram em um lampejo que o tempo é fugaz e que sou mortal.

Na melhor das hipóteses, conhecerei alguém com quem compartir silêncios e miradas cúmplices, em quem sentirei fortaleza e que será uma pedra importante (mas não mais fundamental!) no chão onde me apoio. Na pior, esse alguém nunca será encontrado por eu haver desistido de encontrar. Em todo o caso, o importante é que a imagem da mulher ideal não existe, e que à ela elejo a todas as mulheres. Ignorarei o orgulho e não lutarei por provar nada a ninguém, apenas respeitarei todos os seus dogmas, sem ferir aos meus. Consciente de que mesmo o maior dos cabeças-duras, tem de curvar-se ao facto de que certas coisas carecem de compreensão e são como são. Às mulheres não cabem definições. Curiosamente, são aquelas com as quais sinto-me infantil as que conseguem ver "o homem na criança". Com alguma sorte, os véus são despidos e chega-se ao ventre. "She moves with it, lifts my days, light(s) up my nights..."

[late night draft]

3 comments:

Mascis said...

that was deep! keep writing :)

Anonymous said...

parabéns! vc tem um talento e tanto! keep writing! continue assim e daqui a pouco vc vai precisar encontrar uma editora pra publicar um livro

Roberto Mello said...

De novo, muita coisa a comentar...
O que eu nunca faço por achar que esse talvez não seja o local ideal.
Quem sabe em um post próprio.
COmo sempre, chutando pro futuro, sem o presente... (eu)
Abraço.