Friday, October 13, 2006

Tirando a limpo

OK, deixando de viadagem por aqui... Não se trata de chutar o pau da barraca nem de agredir ninguém, mas este espaço, já pelo texto que define o título, começou mal.

Primeiro, os textos soam-me demasiadamente pomposos e com a visível pretensão de derrubar muralhas. Felizmente, não sou nem quero ser Lair Ribeiro. Nem ele, nem nenhum outro charlatão profeta da auto-ajuda. De agora em diante, experimentarei a lógica do Jack Kerouak, de escrever directamente, de forma quase compulsiva, deixando pouco espaço para a auto-crítica estilística e tentando chegar o mais perto possível daquilo de que cada vez mais me tenho distanciado, minhas emoções.

Neste momento, a emoção que sinto é raiva. Raiva do tipo entranhado, misturado às tripas, parte do meu ser, não corpo estranho. Do tipo que espera ansiosa a menor desculpa para sair e explodir, mesmo que seja na minha própria cara. Saudável, não? Creio que um terapeuta diria, "isso, ponha tudo para fora". Será tudo justificado? Porque existe a necessidade de partilhar tudo? Que tipo de pergunta é "como vai você?" Alguém verdadeiramente se importa?

Com a quantidade de cinismo existente no mundo, visível nas pequenas hipocrisias do dia-a-dia, me pergunto se vale a pena algo como escrever um diário. Onde está a fronteira que define a saudável expressão do ser, a partilha de sensações (sejam estas quais forem) com outras pessoas (isso é viver em comunidade, ainda que binária), de um simples exercício exibicionista?

Com tantas coisas no cotidiano capazes de tirar-me mais e mais abaixo, busco cada vez mais apoio naqueles que a meu ver, restauram-me a esperança na raça humana. Seria alienação algo que afinal constantemente utilizo como arma para confrontar os problemas que me surgem diante? Aquilo que ajuda-me na minha actividade criativa e acutiza a minha percepção do cada vez mais (rapidamente) cambiante universo que me rodeia?

Venho de uma sessão contínua de 6 episódios (talvez mais) da brilhante série "Arrested Development", que há pouco foi-me recomendada por um grande amigo meu. Grande pela proximidade que sinto em relação a ele, e maior pela sua humildade, mascarada, denotada no seu jeito espontâneo de ser. Uma coisa aparentemente tão pequena, é suficiente para alegrar-me e inspirar-me: ver alguém que sem ser cabeça-dura, aprendeu a estar bem consigo mesmo, sem estar de mal com todos ao seu redor.

Esta série, conta-nos, através das peripécias dos membros de uma família sanguessuga de sua própria empresa, um sem-número de situações tragi-cômicas. Acontecimentos e opiniões de conteúdo bastante sarcástico e agressivo, que ao revelar as pequenas tragédias e falhas de cada membro da família Bluth, obriga-nos a repensar os nossos próprios valores e a encarar a nossa humana trivialidade. Sem cair na pieguice nem em moralismos inúteis.

Sem ser o bom da fita, é isso que o meu amigo me revela. Que não somos nem necessitamos ser perfeitos, mas que isso não significa que devamos ser laxistas, tampouco desesperados.

Não é fácil ser uma rocha. Obrigado por resistir. Keep rolling!

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