Thursday, March 28, 2013

O conciso

Deparado com a grande pergunta, com uma clareza mental como nunca antes sentira em sua vida, decidiu matar-se. Encontrou então um problema, o que dizer, como justificar o injustificável? Com o peso de um legado a deixar, com o valor adicional de ser de última hora, eis que se lhe ocorreu a forma perfeita de resumir o irresumível. Não deixou nada. Afinal, pensou: "a melhor carta de despedida é uma carta inexistente". E assim, se foi.

Saturday, January 02, 2010

Novo ano...

Não me considero uma pessoa nostálgica. Curiosamente, há alguns minutos, enquanto almoçava, via um artista na tv falar sobre este tema. Dizia que a nostalgia seria algo como um refúgio de uma vida aborrecida ou que atravessa um mal momento. Nos últimos tempos, e já lá vão largos meses de prática, obriguei-me a investir no agora, deixando de concentrar-me em momentos passados. Viver o presente, o único lugar onde se vive, a cada instante. Entretanto, o início de um novo ano, resoluções à parte, leva-me sempre a uma espécie de revisão ou repasso de eventos e prioridades.

Dediquei parte destes 2 primeiros dias de 2010 a ver filmes de guerra, altamente recomendáveis: "Black Hawk Down", "The hurt locker" e "Waltz with Bashir". Visionava-os como parte de um processamento de idéias para um projecto em comum com um grande amigo. Ao ver tais histórias, o que ficou latente de todos esses filmes foi a importância da vida em seus pequenos detalhes e nos laços que criamos ao longo dos nossos percursos pessoais.

Lembrei-me então de um pequeno episódio que para mim foi muito significativo: a primeira vez que saí de minha cidade, em companhia de amigos, para uns dias de férias. Éramos 4 ao todo, mas o nosso grupo de amigos embora maior, era muito inerte e já bastante nos custou organizar a pequena aventura. Íamos passar um largo fim-de-semana (4 dias) em uma praia, a 90km de nossa cidade. Como cada geração costuma dizer, esse lugar era então um pouco selvagem e muito pouco turístico. Talvez isso explique que um percurso tão curto levasse 2h em ser feito, pese o trânsito quase inexistente.

Lembro da sensação de em uma época pré-internet (refiro-me ao seu uso civil e global) meter-me com 3 amigos em um ônibus, rumo a um lugar que não conhecíamos, sem o preparo que nos daria uma reserva em um hotel e um cartão de crédito. Tudo muito rudimentar. Íamos preparados com uma tenda de campanha - que nenhum de nós jamais havia montado em sua vida - como plano B.

No final, foram 4 dias de pura diversão adolescente, com muita bebida e sobretudo, boa onda e uma grande vontade de desfrute. Foi uma pequena semente posta num vasto horto, que terminou por germinar e expandir-se além do esperado.

Hoje, separado por milhares de kilômetros e memórias, de uns mais que de outros, penso na união que é criada ao partilhar experiências. Parece evidente, mas o óbvio, como costumo dizer, sempre o é depois. Uma espécie de refúgio dos medíocres. Penso nas pessoas com quem compartí momentos em poucos, mas distintos pontos do planeta e na fortuna que representa para mim poder havê-lo feito. Meu objectivo é seguir fazendo-o, cada vez mais, em mais lugares.

Noites mal dormidas, longas caminhadas em silêncio, queixumes, e etc.; é impressionante como todo o negativo converte-se (ou pode sê-lo) em algo bom. Novamente, um rascunho a desenvolver melhor por aqui. E pensar que o conceito inicial era falar um bocadinho de cinema...=)



Friday, June 12, 2009

O futuro não é mais como antigamente (?)

Não tenho a mais mínima intenção de ser nostálgico ou saudosista. Simplesmente nada contra quem possui tais hábitos, apenas não é minha onda. Um amigo certa vez tentou convencer-me de que já não havia tanto desenvolvimento tecnológico como em séculos anteriores, sobretudo desde os eventos que proporcionaram a revolução industrial, e que a humanidade avançava a passos de tartaruga. Creio que não poderia estar mais equivocado. O facto é que o impacto de tais descobertas e avanços dá-se cada vez mais à surdina e as pessoas assimilam-nos de maneira quase inconsciente. Cada vez há menos espaço para o espanto e a surpresa. A profusão de publicidade (sim, os avanços dirigem-se a productos que se comercializam!) e o ruído instersticial existente confunde-nos e torna o trabalho de ‘separar o joio do trigo’ uma tarefa laboriosa que a maioria não se vê disposta a executar – e bem entende-se o porquê. Até aí tudo bem, mas então onde estaria o problema? A meu ver, a humanidade parece haver deixado de sonhar.

Penso que na base de toda boa ficção (científica) está o desejo de avançar e de antever como será o amanhã. Jules Verne com sua ‘Viagem à lua’, previa 104 anos antes como seria a chegada do homem a esse satélite. Seguramente, haverá ajudado a nutrir o espírito de futuros cientistas e astronautas. Para os demais mortais, resultava fantástico, quiçás absurdo e infundado um relato como aquele. Na actualidade, não é difícil encontrar ‘gênios’ que em nome do saber científico, usam-no para criticar coisas como crenças religiosas, literatura e filmes! Rotulam-nos com extrema facilidade de impossíveis, improváveis e como uma prova mais da estupidez humana. Tais personagens resultam-me tão abomináveis como os membros da Inquisição Católica, na Idade Média. Limitam-se ao conhecimento vigente e negam tudo o que exista fora de sua limitada (actualmente mais incompreensível que naqueles tempos) concepção do universo e da vida. São os ‘ingênuos com conhecimento’, cujo apego à realidade vigente é tão forte que os induz a um fanatismo superior àquele que geralmente criticam (o religioso). Extremistas cujos universos desfazem-se com a chegada de novas teorias que jogam tudo o que veio antes por terra. Provavelmente, desta fina cepa provêm os membros da seita ‘Scientology’.

Recentemente, pude acudir à exibição do filme “Terminator: Salvation” e o vazio gerado por seu limitado avanço no futuro (ainda que proposital), levou-me a rever “Blade Runner” – meu filme favorito de ficção científica (e talvez em todos os gêneros). Enquanto ‘Terminator’ limita-se a mostrar uma realidade próxima à actualmente vivida por todos nós (2019), num cenário previsto há 30 anos em Mad Max (para citar UMA fonte apenas), ‘Blade Runner’ permitia-se pensar um futuro (curiosamente, também o ano de 2019!), que confunde-se em parte com a nossa realidade actual (Tókio e outras cidades sobretudo asiáticas assemelham-se à imagem exibida de Los Angeles no filme), extendendo-a uma etapa mais no futuro (exploração de Marte e colônias extraterrestres, veículos voadores, cyborgues,…). Não pretendo comparar estas 2 obras cinematográficas (já indiquei claramente qual prefiro), apontando os falhos de uma ante os méritos da outra; utilizo-as apenas para contrastar a síndrome vigente à qual me refiro com este texto. Parece-me evidente que a primeira não existiria sem a segunda, e que todo um entrelaçado universo e imaginário colectivo foram formados ao longo da existência da ficção científica como gênero e, referindo-me a obras audiovisuais, que isto foi impulsado por ‘Blade Runner’. Portanto, todas as obras posteriores à mesma deveriam ser vistas (em sua maioria) como complementares, não como conflictivas (salvo raras excepções).

O facto é que paradoxalmente na chamada ‘Era da informação’, onde a humanidade tem accesso em fracções de segundo a uma infinidade de conhecimentos e meios ao alcance de premir um botão, encontra-se mais vazia que nunca. Felizmente, refiro-me às massas (mais às supostamente alfabetizadas) e ainda que não pareça, tenho fé e recuso-me a deixar de surpreender-me com os avanços dos quais somos capazes.
Espero que num mundo cada vez mais globalizado (a globalização existe desde o surgimento da humanidade, mas tem variado de ritmo entre causa e efeito ao longo de sua existência), todas as espécies de fronteiras deixem de existir, sobretudo as mentais!

(Rascunho)

Sunday, November 16, 2008

Senóides

Engraçado: já há algum tempo nao escrevia aqui. Achava sinceramente que seguindo a lógica descrita alguns posts atrás de calar, ao invés de falar, era algo que nao me fazia a menor falta. Felizmente, nao poderia estar mais errado. Tal e como (creio haver) descrito no enunciado deste blog, nao escrevo nada aqui com nenhum tipo de pretensao. Paralelamente, a isso, uma vez escritos, estes textos deixam de pertencer-me e ganham vida própria. Sao vestígios de distintos 'Eu's ao longo do tempo.

Numa dessas conversas tipicamente propiciadas pela internet, a meio da noite e rompendo barreiras horárias, paralelos, e etc. e talz, fui levado, por um (grande) amigo, a reler alguns dos meus textos anteriores. Até aí, nada de mais. Boa foi a surpresa de ao ler o último texto postado, datado do início deste ano, dar-me conta que parecia haver sido escrito por outra pessoa. Um outro eu, que pode ajudar-me hoje, a entender melhor o meu presente. Dei-me conta nao só de outro enorme potencial desta ferramenta, mas de que ironicamente, encontro-me numa situaçao exactamente inversa à descrita no texto em causa!

Embora isto pudesse levar-me a um estado de desespero, o efeito que me proporciona, esse também, é oposto ao que seria de esperar. Concluo entao que mais ou menos da mesma maneira que palavras sinónimas nao necessariamente significam o mesmo, apresentando matizes e sentidos específicos a um dado contexto; nao é que a história seja exactamente cíclica, fazendo com que a cada determinado espaço temporal eu me encontre novamente no mesmo ponto - e provavelmente, cometendo os mesmos erros de sempre -, é como um continuum, onde a cada subida ou descida do gráfico (senoidal), corresponder-me-ia uma segunda (e terceira,...) oportunidade de mudança.

Aí está o dilema de perceber o momento, reunir a informaçao disponível, formular hipóteses e variáveis e provar algo distinto. A ver que passa...    

Sunday, January 06, 2008

'Grace' (Sketches from my drunken heart)*

Engraçado como coisas tão simples e que deveriam ser corriqueiras e universais, podem ser tão difíceis de se encontrar. Como emoções podem ser continuamente aniquiladas, vítimas de filtros impostos por hábitos sócio-culturais, reduzidas a um bocejo, um silêncio, uma pequena indiferença.

Estranho o grande passo que tem de ser tomado por uma pessoa (na verdade, duas!) para que essa condição seja superada.

Mágico quando isso ocorre. Duplamente, se às dificuldades normalmente existentes, verifica-se que tais sujeitos provêem de culturas distintas. Com tanto ruído e interferência sobrepovoando as vias normais de comunicação, é fascinante que duas pessoas de distintas procedências entendam-se de forma aberta e directa. É como se, ao mesmo tempo, se eliminasse e se exacerbasse as suas individualidades, numa fusão que resulta em 2 do mesmo e não em 1!

Nesse êxtase de fazer parte de um núcleo desprovido de centro, eleva-se o espírito e aproximamo-nos do divino. Tal estado, suponho, equivalha à expressão 'graça' / 'estado de graça', a qual prefiro utilizar como alusão lúdico-poética, em lugar de seu significado religioso. Este, por sua vez, refere à uma condição de elevação do espírito (creio que daí a confusão com sentidos divinos) de uma forma passageira ou permanente.

Luto para tentar descrever a sensação sentida em tal condição (penso que de certa forma já o tentara noutro texto intitulado "Mysterious Ways"), onde palavras são os componentes mais dispensáveis na comunicação, que ocorre de forma muito mais directa e plena.

Imerso nesse estado, tempo e espaço diluem-se em conceitos distantes e intangíveis. Dia e noite fundem-se de maneira semelhante, onde não se sabe onde um termina e o outro inicia. Creio que em tudo isso, o que mais me surpreende é a semelhança e a diferença existentes entre tal sensação e o Amor. O Amor é algo que conleva uma certa carga de peso consigo enquanto que o que tento descrever é de uma leveza imensurável.

Esta é uma busca que seguirá ao seu ritmo, sem pressas. O importante, como já disse, é o caminho, não-tanto os destinos e as conclusões, mas sim os sentimentos e as sensações.

Et la nave va!


* Aproveito para fazer uma ode (ainda que retorcida) ao Jeff Buckley

Monday, November 27, 2006

Reasons Unknown (The Killers)

I pack my case
I check my face
I look a little bit older
I look a little bit colder
With one deep breath,
and one big step,
I move a little bit closer
I move a little bit closer
For reasons unknown

I caught my stride
I flew and flied
I know if destiny’s kind,
I’ve got the rest on my mind
But my heart, it don’t beat,
it don’t beat the way it used to
And my eyes, they don’t see you no more
And my lips, they don’t kiss,
they don’t kiss the way they used to,
and my eyes don’t recognize you no more

For reasons unknown, for reasons unknown.

There was an open chair
We sat down in the open chair
I said if destiny’s kind,
I’ve got the rest on my mind
But my heart, it don’t beat,
it don’t beat the way it used to
And my eyes, they don’t see you no more
And my lips, they don’t kiss,
they don’t kiss the way they used to,
and my eyes don’t recognize you at all.

For reasons unknown, for reasons unknown.

I said my heart, it don’t beat,
it don’t beat the way it used to
and my eyes don’t recognize you no more
And my lips, they don’t kiss,
they don’t kiss the way they used to,
and my eyes don’t recognize you no more.

For reasons unknown, for reasons unknown,
for reasons unknown, for reasons unknown

Tuesday, November 21, 2006

Catarse e ano-novo

Será o ano-novo ou será o Natal? Talvez nem um nem outro, mas sim o inverno. Não sei.

Curioso como por mais que pense por vezes estar desconectado do mundo, sou vítima de um dos estigmas mais frequentes nesta época do ano: a depressão. A ver, assumo-o por via das dúvidas, e também por assignar à sensação angustiante que sinto um tom passageiro e relativizante.

O mês de Novembro ainda nem acabou e, seguindo o timing capitalista de vendas - que sem importar-se com a temperatura ou a estação (seja em que hemisfério - pois as estações são cada vez mais dispersas e parecem-se a verões esquizofrênicos) sacou árvores e decoração de natal às ruas mal acabava Outubro - começo a fazer o balanço do ano que se acaba, 40 dias antes disso (não comecei hoje!).

A frase que serve de ponto de partida pro balanço é a seguinte "se eu morresse amanhã, teria feito alguma diferença neste mundo?". A julgar além do balanço que [felizmente] poderia ser feito por familiares e amigos, a resposta seria "não".

Sim, várias experiências, sensações vividas("emoções" diria Roberto Carlos), mas nenhuma árvore plantada (quiçás sim, na infância!), nenhuma casa, jardim, filho(a)ou livro. Nada!

Longe do espírito derrotista, aliás, todo o oposto(!), espero que em nove dias, ao encerrar laboralmente este ano, chegue à conclusão que 2006 tratou-se um ano de muito trabalho, e que o seu saldo seja positivo, ao menos neste aspecto; já que por todo o demais, até o momento resume-se a uma busca constante que não encontrou destino e que a meio do caminho(?) perdeu o seu curso e motivação.

Que em 2007, o meu maior inimigo, a inércia, seja vencido rotundamente, por mim mesmo!

O ar que há meses respiro é pesado, quase intragável de tão viciado. Ainda assim, forço o olhar ao horizonte e penso que se a onda teima em não vir, hei-de dar-lhe uma mãozinha.