Friday, June 12, 2009

O futuro não é mais como antigamente (?)

Não tenho a mais mínima intenção de ser nostálgico ou saudosista. Simplesmente nada contra quem possui tais hábitos, apenas não é minha onda. Um amigo certa vez tentou convencer-me de que já não havia tanto desenvolvimento tecnológico como em séculos anteriores, sobretudo desde os eventos que proporcionaram a revolução industrial, e que a humanidade avançava a passos de tartaruga. Creio que não poderia estar mais equivocado. O facto é que o impacto de tais descobertas e avanços dá-se cada vez mais à surdina e as pessoas assimilam-nos de maneira quase inconsciente. Cada vez há menos espaço para o espanto e a surpresa. A profusão de publicidade (sim, os avanços dirigem-se a productos que se comercializam!) e o ruído instersticial existente confunde-nos e torna o trabalho de ‘separar o joio do trigo’ uma tarefa laboriosa que a maioria não se vê disposta a executar – e bem entende-se o porquê. Até aí tudo bem, mas então onde estaria o problema? A meu ver, a humanidade parece haver deixado de sonhar.

Penso que na base de toda boa ficção (científica) está o desejo de avançar e de antever como será o amanhã. Jules Verne com sua ‘Viagem à lua’, previa 104 anos antes como seria a chegada do homem a esse satélite. Seguramente, haverá ajudado a nutrir o espírito de futuros cientistas e astronautas. Para os demais mortais, resultava fantástico, quiçás absurdo e infundado um relato como aquele. Na actualidade, não é difícil encontrar ‘gênios’ que em nome do saber científico, usam-no para criticar coisas como crenças religiosas, literatura e filmes! Rotulam-nos com extrema facilidade de impossíveis, improváveis e como uma prova mais da estupidez humana. Tais personagens resultam-me tão abomináveis como os membros da Inquisição Católica, na Idade Média. Limitam-se ao conhecimento vigente e negam tudo o que exista fora de sua limitada (actualmente mais incompreensível que naqueles tempos) concepção do universo e da vida. São os ‘ingênuos com conhecimento’, cujo apego à realidade vigente é tão forte que os induz a um fanatismo superior àquele que geralmente criticam (o religioso). Extremistas cujos universos desfazem-se com a chegada de novas teorias que jogam tudo o que veio antes por terra. Provavelmente, desta fina cepa provêm os membros da seita ‘Scientology’.

Recentemente, pude acudir à exibição do filme “Terminator: Salvation” e o vazio gerado por seu limitado avanço no futuro (ainda que proposital), levou-me a rever “Blade Runner” – meu filme favorito de ficção científica (e talvez em todos os gêneros). Enquanto ‘Terminator’ limita-se a mostrar uma realidade próxima à actualmente vivida por todos nós (2019), num cenário previsto há 30 anos em Mad Max (para citar UMA fonte apenas), ‘Blade Runner’ permitia-se pensar um futuro (curiosamente, também o ano de 2019!), que confunde-se em parte com a nossa realidade actual (Tókio e outras cidades sobretudo asiáticas assemelham-se à imagem exibida de Los Angeles no filme), extendendo-a uma etapa mais no futuro (exploração de Marte e colônias extraterrestres, veículos voadores, cyborgues,…). Não pretendo comparar estas 2 obras cinematográficas (já indiquei claramente qual prefiro), apontando os falhos de uma ante os méritos da outra; utilizo-as apenas para contrastar a síndrome vigente à qual me refiro com este texto. Parece-me evidente que a primeira não existiria sem a segunda, e que todo um entrelaçado universo e imaginário colectivo foram formados ao longo da existência da ficção científica como gênero e, referindo-me a obras audiovisuais, que isto foi impulsado por ‘Blade Runner’. Portanto, todas as obras posteriores à mesma deveriam ser vistas (em sua maioria) como complementares, não como conflictivas (salvo raras excepções).

O facto é que paradoxalmente na chamada ‘Era da informação’, onde a humanidade tem accesso em fracções de segundo a uma infinidade de conhecimentos e meios ao alcance de premir um botão, encontra-se mais vazia que nunca. Felizmente, refiro-me às massas (mais às supostamente alfabetizadas) e ainda que não pareça, tenho fé e recuso-me a deixar de surpreender-me com os avanços dos quais somos capazes.
Espero que num mundo cada vez mais globalizado (a globalização existe desde o surgimento da humanidade, mas tem variado de ritmo entre causa e efeito ao longo de sua existência), todas as espécies de fronteiras deixem de existir, sobretudo as mentais!

(Rascunho)

2 comments:

Pau Mou said...

Mira que bien este post justamente para retomar la conversación de las castañas! Uno de los puntos más fascinantes de Blade Runner es que además de los referentes del presente y del futuro, está lleno de alusiones al pasado (incluso medivales) en el vestuario, los ambientes, las arquitecturas... todas (cualquiera) las èpocas y culturas hacen mogollón plastilina marrón-multicolor! Para mí es una de las razones que la hacen eterna.

:D

Evz said...

Bueno, espero que vengan muchas charlas más, con o sin castañas. Mejor con ellas, no? =) Feliz 2010!