Sunday, January 06, 2008

'Grace' (Sketches from my drunken heart)*

Engraçado como coisas tão simples e que deveriam ser corriqueiras e universais, podem ser tão difíceis de se encontrar. Como emoções podem ser continuamente aniquiladas, vítimas de filtros impostos por hábitos sócio-culturais, reduzidas a um bocejo, um silêncio, uma pequena indiferença.

Estranho o grande passo que tem de ser tomado por uma pessoa (na verdade, duas!) para que essa condição seja superada.

Mágico quando isso ocorre. Duplamente, se às dificuldades normalmente existentes, verifica-se que tais sujeitos provêem de culturas distintas. Com tanto ruído e interferência sobrepovoando as vias normais de comunicação, é fascinante que duas pessoas de distintas procedências entendam-se de forma aberta e directa. É como se, ao mesmo tempo, se eliminasse e se exacerbasse as suas individualidades, numa fusão que resulta em 2 do mesmo e não em 1!

Nesse êxtase de fazer parte de um núcleo desprovido de centro, eleva-se o espírito e aproximamo-nos do divino. Tal estado, suponho, equivalha à expressão 'graça' / 'estado de graça', a qual prefiro utilizar como alusão lúdico-poética, em lugar de seu significado religioso. Este, por sua vez, refere à uma condição de elevação do espírito (creio que daí a confusão com sentidos divinos) de uma forma passageira ou permanente.

Luto para tentar descrever a sensação sentida em tal condição (penso que de certa forma já o tentara noutro texto intitulado "Mysterious Ways"), onde palavras são os componentes mais dispensáveis na comunicação, que ocorre de forma muito mais directa e plena.

Imerso nesse estado, tempo e espaço diluem-se em conceitos distantes e intangíveis. Dia e noite fundem-se de maneira semelhante, onde não se sabe onde um termina e o outro inicia. Creio que em tudo isso, o que mais me surpreende é a semelhança e a diferença existentes entre tal sensação e o Amor. O Amor é algo que conleva uma certa carga de peso consigo enquanto que o que tento descrever é de uma leveza imensurável.

Esta é uma busca que seguirá ao seu ritmo, sem pressas. O importante, como já disse, é o caminho, não-tanto os destinos e as conclusões, mas sim os sentimentos e as sensações.

Et la nave va!


* Aproveito para fazer uma ode (ainda que retorcida) ao Jeff Buckley

2 comments:

Roberto Mello said...

Tás apaixonado, boy?
Depois me conta por quem, tá?
Abraxas...

Anonymous said...

valeu raver!!! grande texto!